O quarto trimestre | Fjärde kvartalet
O quarto trimestre pode ser muito duro. Sinceramente gostava que se falasse mais abertamente deste período, até para preparar futuros pais com a gestão de expectativas. Fluidos, hormonas, ansiedade, frustração, medo, pânico, comparação; só queremos a validação que o que nosso bebé está bem e que "aquele" comportamento é "normal", que sabemos minimamente o que estamos a fazer (confissão: muitas-muitas vezes não sabemos) e que não estamos sozinhos.
Os primeiros dias foram de encanto/choque com este ser perfeito e divinal. (E com um cheirinho de bebé tão bom. E com orelhas perfeitas e mãos perfeitas e pés perfeitos (e grandes!), e um narizinho igual ao da mãe, e olhinhos a lembrar os do pai). Depois este ser perfeito e divinal virou um pequeno Gremlin que só queria mamar por horas a fio e que só queria colo por horas a fio, e que conseguia chorar BEM, e do nada! Bem-vindos à maternidade/paternidade <3 - a nossa experiência obviamente. (Entenda-se que o pequeno Gremlin só estava a ser um bebé, e que nós pais é que éramos os peixes fora de água).
Após duas semanas a "batalhar" qb, aceitamos que os primeiros meses da Aurora seriam a continuação do que ela conhecia: muito contacto físico, muita proximidade, dias e noites em que ela ditava as regras (mediante o fisicamente possível, obviamente). Seguir as "dicas" da bebé nem sempre é fácil uma vez que a mãe fica extremamente limitada - o pai também sofre!, mas quando a mãe opta por amamentar, não há como o ónus não cair nela. Mas foi uma opção da qual não me arrependo minimamente - a minha opção: como já referi aqui terei muito tempo para olhos menos pesados e braços menos cansados e mamas menos usadas.
A teoria corrente diz que o ser humano tem uma gravidez de cerca de 40 semanas de gestação porque mais tempo faria com que não fosse possível o parto vaginal dado o tamanho da cabeça do bebé, e que os primeiros três meses passados fora do útero da mãe seriam, de outra forma, passados ainda dentro do útero tal é a dependência do bebé em relação à mãe; e que só a partir dos 6 meses (mais-coisa-menos-coisa) é que o bebé percebe que é uma pessoa separada da mãe.
A doutrina atual também diz que não é possível estragar um recém-nascido com mimo (o que não implica que não lhes possamos tentar ensinar bons hábitos desde o início), e que não se deve deixar um recém-nascido a chorar sozinho na esperança que ele acalme - ele ainda não tem essa capacidade de auto-regulação, essa chegará mais tarde, geralmente a partir dos 4 meses. Bebés que têm as suas necessidades - fome/sede, contacto, segurança, conforto - rapidamente satisfeitas pelos pais, serão, dizem os mais recentes estudos, mais seguros e independentes no futuro. (Não foi o que dizem estes estudos que influenciou a nossa abordagem, mas sim o que para nós fazia mais sentido enquanto novos-pais com calma).
O que mais me apanhou desprevenida:
(ter de aprender a) Lidar com este novo amor - sinto que o meu coração passou a estar em carne viva.
(ter de aprender a) Lidar com a nova dinâmica do casal.
(ter de) Aceitar que falho e vou falhar - e está tudo bem.
(ter de) Aceitar que para já o meu tempo não é meu. Não me posso esquecer quem sou!, mas neste momento quem sou é mãe de uma bebé que precisa muito de mim (e eu dela).
Um abraço apertado a todos os novos-pais que sobreviveram a este primeiro trimestre. Pode ser tão exigente, tão intenso, tão solitário. E tão recompensador, tão gratificante, tão revelador. Vocês conseguiram! E nós também!
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