Com calma | Med lugn


Ser mãe não estava nos planos. Logo, nunca me tinha dedicado a pensar em como seria, o que faria, como lidaria. Praticamente tudo tem sido novidade e apesar disso acho que as coisas têm acontecido de forma algo orgânica, ou seja, tenho tentado fazer o que me faz mais sentido - e em alinhamento com o Tiago. (Obviamente que tenho lido muito e estou bem informada, e com informação de fontes credíveis e confiáveis).

Mas nem sempre foi assim… Quando chegamos a casa da maternidade parecia que tínhamos pressa. Em vez de usufruirmos do momento (partes boas e partes más), estávamos mais focados no que era “normal”, “suposto” e “esperado”. Quando pousávamos a Aurora no berço e ela não ficava, ou quando ela pedia para mamar de hora a hora, ou quando ela começava a chorar de repente e sem razão aparente, entrávamos em modo “será isto normal?!”, “serão os outros bebés assim?!”, “o que estamos a fazer de errado?!”.

As comparações, a preocupação com o estarmos a “atrasar-nos”, com a maneira “certa” de criar/educar um bebé recém-nascido - quase que parecia uma competição: 
- a minha bebé já dorme sozinha no berço dela desde a primeira semana; 
- a minha bebé de 4 semanas distrai-se sozinha durante 2h; 
- a minha bebé de 8 semanas não chora NUNCA; 
- a minha bebé de 10 semanas pede “por favor” antes de começar a mamar e diz “obrigada” quando termina - e em 3 línguas diferentes!; 
- a minha bebé de 12 semanas já muda a fralda sozinha!!
Ahahah. Gente, isto não é um sprint, é uma maratona! - tive de me dizer isto várias vezes em voz alta. Com calma.

Inegavelmente a dinâmica de cada família é diferente e cada uma tem toda a legitimidade de escolher como acolhe um recém-nascido. E ninguém tem direito a julgar como cada família gere esta nova realidade, a não ser que a segurança e bem-estar do bebé estejam a ser colocadas em causa (e nestes casos não basta julgar, há que agir também).

Há pais com mais paciência e pais com menos paciência. Pais que lidam melhor com noites mal dormidas e outros que lidam muito-muito mal. Pais que acham que o bebé é que se deve ajustar à vida familiar, e pais que pensam exatamente o contrário e que acham que a sua vida é que tem de se adaptar à do novo membro da família. Pais que implementam rotinas rígidas e outros que preferem a flexibilidade acima de tudo. Pais que não se importam que o bebé chore, e pais que fazem de tudo para que o bebé não emita um "ai". Pais que acham que o mimo é amor e pais que acham que o mimo é um bicho-papão perigoso (já agora, para mim mimo é amor e nada tem a ver com permissividade ou falta de limites). E depois há todos os mais-que-muitos tons de cinzento dentro destes extremos de preto e branco.

Os bebés são diferentes, os pais são diferentes, as famílias são diferentes, as vidas são diferentes.
O que é que a minha bebé quer?: comida, segurança e conforto.
O que é que eu posso dar?: disponibilidade, paciência e amor. E tempo, dar tempo ao tempo... Teremos tempo para olhos menos pesados e braços menos cansados e mamas menos usadas. É uma escolha minha: são as minhas horas, os meus braços, as minhas mamas e o meu colo. É o meu laço com a minha filha. 

A lembrar sempre que necessário: ser gentil com a minha bebé, e ser gentil comigo e com o meu companheiro; não existe amor a mais - mais ainda quando falamos de um bebé recém-nascido.

Com calma…


"Babies are, it turns out, frustratingly ­individual. In this sense, one might almost compare them to human beings."
Séamas O’Reilly

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