Coração de emigrante | Emigrant's heart


A semana do festival Eurovisão da Canção despertou em mim algo que, não tendo encontrado nome melhor, resolvi chamar de "síndrome aguda de coração de emigrante".

O facto da Austrália participar no festival da Eurovisão (não, não sei porque é que a Austrália participa) fez com que fosse um tema muito falado por aqui, com direito a segmentos nas notícias, festas temáticas e transmissões em direto - não tive "capacidade" de me levantar às 5h da manhã para ver as duas semi-finais nem a final, mas tenho visto tudo em diferido aqui na SBS Australia!

O orgulho que senti o ano passado quando assisti ao Salvador a ganhar a Eurovisão só foi ultrapassado pelo orgulho que senti este ano em ver Portugal a "receber" tão bem os milhões de pessoas que seguem este evento. Porque mesmo apesar de estar tão longe, cada um daqueles vídeos com os concorrentes a "experimentarem" um bocadinho diferente do meu país, fizeram-me sentir em casa. (Quando vi os concorrentes da Suiça a sobrevoarem de helicóptero a cidade invicta do Porto comecei aos saltos pela casa tal era a minha excitação!)

O meu caso de "coração de emigrante" começou há uns meses atrás quando fomos a Byron Bay: numa casa de kebabs tinham o rádio ligado e estava precisamente a passar a música "Amar Pelos Dois". Senti um calorzinho difícil de descrever e um certo embaciar de olhos (admito que é-me bastante difícil não ficar emocionada cada vez que ouço esta música).

Já em Sydney, a maravilhosa refeição no "Frango" provou-me o que já há muito eu desconfiava - como a comida alimenta a alma. Bastava ver a nossa felicidade a comer bacalhau e a beber uma Super Bock / Sumol :)

Em Melbourne tive outro episódio muito especial. Estava a ir para a Cruz Vermelha numa sexta-feira como outra qualquer. Só que naquela sexta-feira resolvi ir por um caminho diferente (destino?!). Qual a minha surpresa quando me deparo com uma carrinha vermelha, verde e amarela: o Tuga! O Tuga da D. Paula e do Sr. Fernado, em Melbourne há mais de 30 anos!! E onde se comem os melhores pastéis de nata da Australásia e arredores (e bifanas!!).

Ainda não estou na fase da bandeira nacional na janela (o cachecol do FCP está no quarto), nem da Nossa Senhora de Fátima num altar cá em casa (apesar de ser devota), nem de vestir a camisola da seleção para ir tomar café; mas talvez já tenha faltado mais ah-ah-ah.

Emigrei de Portugal.
Imigrei para a Austrália. 
Mas o meu coração está no sítio.

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