Japão: como? | 日本のやり方


O Japão devia vir com um livro de instruções. Foi sem dúvida o sítio mais interessante que já visitei, com certas particularidades-bem-particulares, nomeadamente:
  • sanitas vindas do espaço, cheias de botões e funcionalidades (e à semelhança da Coreia do Sul)
  • chinelos "especiais" para uso exclusivo na casa de banho, principalmente em casas particulares
  • uma enorme deferência para com pessoas mais velhas e mais "importantes": não falo apenas de vénias; falo de um vocabulário e construção de frases completamente diferente consoante o grau de importância da pessoa
  • multidões dentro de um metro em silêncio
  • inexistência de caixotes do lixo (e no entanto lixo nem vê-lo)
  • a loucura por tudo o que é fofinho e giro e brilhante: destaque para gatinhos, unicórnios, coelhinhos e arco-íris
  • um fascínio como nunca vi por árvores a florescer, principalmente cerejeiras
  • regras e regras e regras do que fazer / não fazer com os pauzinhos
  • a banda desenhada mais perturbadora que já vi (manga-para-adultos)
  • casas e casas de meninas para fazerem companhia aos homens de negócio ao final de um longo dia de trabalho (a prostituição é ilegal no Japão pelo que supostamente nestes sítios elas limitam-se a servir bebidas e conversar...)
  • salas e salas de pachinko (um jogo que é uma mistura entre pinball e slot machine; o jogo é ilegal no Japão pelo que o pachinko é a coisa mais próxima de jogo que eles têm) cheias de homens de negócio ao final de um longo dia de trabalho - com muito fumo e música alta à mistura
  • é proibido fumar na rua mas não dentro de salas de pachinko e certos restaurantes / bares; além disso encontram-se salas para fumadores nos sítios mais estranhos

Dos meus 'momentos' favoritos:

  • Pedir ramen de uma máquina (caso da cadeia Ichiran - o melhor ramen de sempre)
É bastante habitual em Tóquio encontrarem-se restaurantes em que no exterior, numa máquina para o efeito, se faz a seleção do que se vai comer bem como o pagamento, saindo uma senha que depois é apresentada no interior do restaurante. Também é bastante habitual encontrarem-se modelos em plástico da comida em questão - fiquei deveras impressionada com a qualidade dos mesmos, eu diria até muitas vezes com melhor aspecto do que o aspecto da comida real.

O Ichiran tem vários restaurantes espalhados por Tóquio (bem como outras cidades do Japão) mas nós acabamos por ir ao de Shinbashi. No exterior do restaurante encontra-se a máquina onde se faz a seleção e pagamento - felizmente há instruções em inglês!

Depois de termos a senha na mão entramos e o que nos espera é uma fila de lugares virada para uma "parede", com separadores entre cada lugar. Este local não é para convívios, é sim para comer um ramen delicioso e sair o mais depressa possível para dar lugar a tantos outros que esperam pela sua vez (este espaço tinha talvez 15 lugares).

Em cada lugar temos uma folha de papel onde podemos selecionar desde o grau de cozedura dos noodles, até ao nível de picante, intensidade do caldo do ramen, etc etc - e mais uma vez temos a tradução em inglês! Depois de selecionarmos as nossas preferências tocamos num botão e eis que a "parede" à nossa frente se levanta e surge um empregado para nos tirar a senha e o papel com as nossas preferências e servir passados 3 minutos - em nenhum momento vemos a cara do empregado - o espaço está feito de forma a que seja tudo o menos "invasivo" possível.

(O Japão também é conhecido pela quantidade impressionante de máquinas de venda automática disponíveis: chá, refrigerantes, café, fruta, arroz, roupa interior, ...)

  • Comer sushi de um sushi train
Não dá para vir ao Japão e não comer sushi (obviamente que dá mas não é a mesma coisa!). Uma experiência muito gira é ir a um sushi train, que tal como o nome indica, é uma espécie de comboio de sushi. O escolhido por nós foi o bastante conhecido Sushi Zanmai no Tsukiji Market em Tokyo - numa segunda-feira de chuva estávamos quase sozinhos e tínhamos o chef praticamente só para nós :)

Sentamo-nos num balcão por onde passa uma corrente em movimento que vai transportando as várias peças de sushi (daí o "comboio"). Cada peça de sushi / conjunto de peças de sushi vem em pratos de cores diferentes, sendo que a cada cor de prato está associado um preço diferente. É dessa forma que vamos fazendo as contas de cabeça quanto ao custo da refeição - no fim a empregada conta os pratos, por cor, para apresentar a conta. Também é possível pedir à la carte.

Além disso em cada lugar há uma torneirinha de água a ferver bem como o pó de chá verde: fica tão bem chá quente com sushi; bem como gengibre laminado à descrição (que eu amo!!). Curiosidade: aqui as peças de sushi já vêm "temperadas" pelo chef com o wasabi / limão / molho de soja ideal; não é suposto nós acrescentarmos mais "temperos"...

  • Comportamento num Onsen
Os onsen são basicamente a versão japonesa de umas termas, e são uma obsessão dos japoneses!! Os banhos são separados - mulheres de um lado, homens do outro, com alguns (poucos) que são comuns, e portanto há que usar fato de banho / calções nesses.

Passos: tirar a roupa toda; tomar um banho sentados num banquinho com a ajuda de um balde (com esse balde tira-se água quente da piscina; nos onsens mais modernos já existem chuveiros para além do balde); entrar dentro da piscina de água quente (testar com o pé antes porque há onsens com água a escaldar!!); ter em atenção que não se pode mergulhar a cabeça e o cabelo deve estar preso. Nada de toalhas dentro da água, nada de comer nem beber, nada de telemóveis. Supostamente as tatuagens são proibidas - culturalmente associadas à máfia japonesa - mas nós não tivemos problema algum com isso.

As idas aos onsens foram autênticas experiências culturais e é das coisas que mais recomendo a quem visitar o Japão!!

  • Fazer um pedido num templo xintoísta (em traços gerais)
Em primeiro lugar é preciso atirar um moeda para um local específico - é fácil identificá-lo uma vez que é o local para onde as outras pessoas estão a atirar moedas :) Depois fazem-se duas vénias profundas. Em seguida batem-se as palmas, com alguma sonoridade, duas vezes. Pede-se o desejo, sem esquecer de dizer o nosso nome e onde vivemos (sim, os deuses precisam de ser relembrados do nosso nome e morada). Em seguida outra vénia. (Em alguns templos existem uns sinos grandes em que é suposto tocarmos no sino antes de batermos as palmas.) 

  • Tirar a nossa "fortuna" num templo budista
Numa determinada zona do recinto existem umas caixas metálicas com uns pauzinhos lá dentro. Em primeiro lugar coloca-se uma moeda numa caixa para o efeito. Depois é preciso agitar bem a tal caixa metálica - a caixa tem um orifício - até sair finalmente um dos pauzinhos. Cada pauzinho de madeira está identificado com um caracter japonês sendo depois preciso identificar esse caracter numas gavetas, uma vez que dentro dessas gavetas está a nossa "fortuna" escrita num papel (em japonês e num inglês bastante macarrónico). O Tiago teve a melhor fortuna e eu tive a fortuna regular, que agora anda connosco para todo o lado; quem tira uma má fortuna deve prender o papel numa espécie de estendal que eles têm para o efeito para os deuses se encarregarem de neutralizar a má sorte.



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