Mecanismos de defesa | Defense mechanisms


Enquanto lia acerca do trabalho de Anna Freud, filha de Sigmund Freud, parecia que alguém me tinha tirado os óculos - que estavam bastante sujos - e que os tinha limpo meticulosamente, antes de voltar a colocá-los sobre o meu nariz. Vi pela primeira vez, por escrito e de uma forma estruturada, uma descrição acerca dos mecanismos de defesa, onde me revi, e onde revi quem me rodeia.

Este trabalho é de 1934, e sintetiza os dez mecanismos que usamos para proteger o nosso ego (o que aceitamos ser a nossa imagem), quando não queremos/podemos lidar com a (dor da) realidade. E são eles:

1. Denial (negação): não admitimos que temos um problema e que precisamos de mudar, e se alguém nos diz que temos um problema reagimos de forma negativa.

2. Projection (projeção): não queremos reconhecer em nós determinado pensamento negativo e projetamo-lo noutra pessoa ("a minha mãe acha", "o meu companheiro acha", "o meu chefe acha").

3. Turning against the self (virarmo-nos contra nós próprios): achar que merecemos coisas más, que a culpa é nossa, que não merecemos amor/felicidade/perdão (a auto-mutilação deriva daqui).

4. Sublimation (sublimação): más experiências canalizadas para formas morais e úteis; experiências negativas e traumatizantes convertidas em obras de arte.

5. Regression (regressão): regredimos ao passado - quando éramos crianças e evitamos responsabilidades, atribuindo a culpa a tudo e todos, menos a nós.

6. Rationalisation (racionalização): arranjamos "desculpas" para as nossas ações por forma a chegarmos à conclusão que queremos ("não consegui este emprego porque ele não era suficientemente bom para mim").

7. Intellectualisation (intelectualização): neutralizar os sentimentos reais com pensamentos intelectuais, ou seja, ignorar a dor e substituí-la por pensamentos sobre outra coisa qualquer que nos distraia.

8. Reaction formation (comportamento contrário): fazer exatamente o oposto do que queríamos para esconder a nossa verdadeira natureza

9. Displacement (substituição): tornarmo-nos agressivos para um substituto que não tem nada a ver com a nossa agressividade (o caso clássico é alguem mal tratado pelo seu chefe e que chega a casa e descarrega no(a) parceiro(a)).

10. Fantasy (fantasia): desligarmo-nos da realidade através da fantasia; encontrar conforto longe da realidade através do Netflix, desporto desenfreado ou mesmo pornografia.

Supostamente incorremos, em média, em 5 destes mecanismos, por dia, e sem nos apercebermos. Na busca do auto-conhecimento acho realmente importante conseguir identificar, perceber e aceitar o que estou a sentir, em vez de esconder, mascarar, ou pior ainda, ignorar. Mais do que auto-crítica (e crítica aos outros), o meu objetivo é o de exercer a auto-compaixão (e compaixão para com os outros). Afinal todos temos maneiras diferentes de lidar com o que a Vida nos dá. E gosto de pensar que cada um de nós dá o seu melhor.

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