Multiculturalidade no trabalho | Mångkultur på jobbet

Em Portugal sempre trabalhei com equipas 100% portuguesas. Nada contra os meus portugueses - amo-os de coração - mas uma das melhores coisas de trabalhar em países multiculturais é ter uma "janela" privilegiada para outras ideias, costumes e tradições. A verdade é que os meus dias passaram a ser bem mais coloridos dadas as diferentes maneiras de pensar e trabalhar, bem como com toda a aprendizagem e partilha de histórias e História.

A minha equipa em Melbourne (6 línguas nativas: inglês, mandarim, malaio, galês, português e shona):
- Austrália: 3 
- China: 1 
- Inglaterra: 1 
- Malásia: 1 
- País de Gales: 1 (a viver na Austrália há mais de 30 anos)
- Portugal: 1 
- Zimbabwe: 1 (a viver na Austrália desde a adolescência)

A minha equipa em Estocolmo (7 línguas nativas: mandarim, hindi, inglês, farsi, norueguês, português e sueco):
- China: 1 
- Índia: 2
- Inglaterra: 1 
- Irão: 1 (a viver na Austrália desde a adolescência)
- Noruega: 1 (a viver na Suécia há mais de 20 anos)
- Portugal: 1 
- Suécia: 2

Algumas coisas que fui aprendendo com as minhas equipas multiculturais:
- o bolo de iogurte é uma coisa portuguesa?! - mais nenhum colega meu algum dia ouviu falar de bolo de iogurte...
- já deixei devidamente esclarecido que o Nandos não é português e que hambúrgueres de frango não são definitivamente uma iguaria portuguesa!
- já choquei muita gente com a nossa maravilhosa combinação de arroz & batata assada
- os malaios acham que o durian mais saboroso (e "bem" cheiroso...) é o da Malásia - os tailandeses pensam que é o deles
- a Malásia é verdadeiramente um país multicultural com diversas etnias e religiões e que celebra, entre outros: o ano novo islâmico (Eid al-Fitr ou Hari Raya Aidil Fitri em malaio), o ano novo chinês, o festival indiano de Diwali (Deepavali em malaio), o festival budista de Wesak e ainda o Natal!
- apesar de países/religiões/culturas diferentes, há IMENSAS celebrações que "coincidem" e com diversos elementos em comum - família, comida, prendas, fogo de artifício, limpezas (quer espirituais, quer físicas), ... - equinócio da Primavera: Páscoa, Yuan Xiao Festival (China), Holi (Índia), Nowruz (Irão); solstício de verão: Midsommar nos nórdicos, festas juninas em Portugal (entre outros países); solstício de inverno: Natal, Dongzhi (China), Pongal (Índia), Yalda (Irão e norte do Afeganistão)
- o dia da criança na Índia é celebrado a 14 de Novembro, precisamente 9 meses depois de 14 de Fevereiro :)
- todos os Natais a Noruega oferece ao Reino Unido um enorme pinheiro norueguês como árvore de Natal, para agradecer o auxílio durante a Segunda Guerra Mundial
- a Noruega introduziu o salmão no Japão durante os anos 80, tendo-se tornado um dos ingredientes favoritos do sushi e sashimi (obrigada Noruega!!!)
- a tradição nórdica do sobrenome da criança: ainda é bastante comum o uso do sobrenome patronímico, ou seja, o sobrenome é criado com base no nome do pai + o sufixo 'son' (caso sueco se for um filho) ou 'dotter' (caso sueco se for uma filha) - exemplo: o Lars Eriksson teve um filho chamado Jörgen que será portanto o Jörgen Larsson / o Lars Eriksson teve uma filha chamada Jana que será portanto a Jana Larsdotter
- a pressão social chinesa quanto ao casamento e a discriminação/penalização quanto às relações/casamento entre pessoas do mesmo sexo faz com que muitos emigrantes chineses na Austrália optem por casamentos de fachada para "satisfazer" a família que está na China, enquanto vivem a sua vida como realmente querem no seu novo país
- apesar do tamanho da China apenas é usada uma "time zone" 
- na China o número "8" é considerado um número auspicioso porque foneticamente se assemelha à palavra "prosperidade"; pelo contrário o número "4" é evitado uma vez que foneticamente se assemelha à palavra "morte"
- no Irão mais de 65% dos alunos universitários de Engenharia e Ciências são mulheres
- apesar da maioria dos iranianos serem muçulmanos, as celebrações/festividades principais no Irão têm origem no Zoroastrismo (uma das religiões mais antigas do mundo)
- quer os iranianos, quer os chineses, quer os indianos hindus têm um calendário próprio - o calendário iraniano é um calendário solar e o calendário chinês e hindu é lunissolar (lua e sol)
- apesar da língua ser diferente, os suecos, dinamarqueses e noruegueses conseguem entender-se (imagino que seja um bocadinho como o português, espanhol e italiano?!)
- o hindi e o inglês são as duas línguas oficiais da Índia mas a constituição indiana reconhece 23 línguas (inglês + 22 línguas "indianas")
- as letras K, Q, V e Z não fazem parte do alfabeto galês
- o Zimbabwe tem 16 línguas oficiais, detendo o Guinness World Record para país com maior número de línguas oficiais 
- no Zimbabwe o mês de Novembro é mês tabu para casamentos, principalmente entre os shona

Mas, obviamente, nem tudo são rosas. Há certas particularidades quanto à comunicação - o saber ler nas entrelinhas, o saber interpretar os silêncios - que se não forem bem percebidas podem provocar alguns mal-entendidos. A formalidade/informalidade, a dificuldade/facilidade de dizer "não", a dificuldade/facilidade de confrontar e lidar com o conflito, a susceptibilidade quanto a determinado tema (principalmente política e religião), acrescentam toda uma camada de sensibilidade acrescida - mas nada que não se aprenda rapidamente.

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