Acerca de ser "produtivo" | Om att vara "produktiv"

Durante o mini-break de 4 meses em Portugal dei comigo a sentir algumas vezes o peso da pressão social (auto-imposta) de que "devia estar a trabalhar." Apesar de, obviamente, nunca ter recebido por parte de ninguém próximo a mim, sequer uma dica de que "devia estar a trabalhar" - pelo contrário tive várias pessoas a encorajarem-me a aproveitar essa "pausa" e a gozar um descanso merecido (e obrigada por isso!) - de vez em quando uma vozinha irritante dizia-me "Joana, já começavas a fazer algo de produtivo...". 

A verdade é que sempre fui muito focada no meu trabalho. Então a partir do momento em que comecei a trabalhar a partir de casa em Melbourne, no ido Março de 2020, a minha vida passou a girar em torno do trabalho - afinal, caso não se recordem, só me era permitido sair de casa durante 1h por dia e até 5km de casa (mais tarde passou para 2h por dia mas os mesmos 5km). Nada de passear, viajar, treinar, comer fora, sair com amigos, concertos/exposições/eventos, nada-nada-nada. Para mim o estar sempre ocupada com o trabalho fazia com que tivesse menos tempo para pensar em quão preocupada/assustada estava - afinal se estou a pensar em folhas excel e relatórios SAP não estou a pensar na possibilidade dos meus ficarem doentes, em quando as coisas vão voltar ao normal, como vai ser daqui para a frente, etc-etc.

(Para mim o impulso de ser-se super produtivo em tempo de clausura estará relacionado com o tentarmos ter algum - aparente - controlo sobre um mundo que se tornou ainda mais imprevisível que o habitual. Basicamente tentamos ocupar o nosso tempo o máximo possível para calar as nossas vozes interiores, abafar a nossa mente.)

E de repente em meados de Outubro dou comigo em Casa (Portugal), novamente fechada, sem trabalho e com todo o tempo livre do mundo. Tempo esse que, depois de conseguir calar a tal vozinha irritante (sucesso!), utilizei para fazer o que me fazia melhor naquele momento: longas caminhadas com a minha Mãe, passar tempo de qualidade com a Rafinha, dormir, treinos de cross-fit (primeiro presenciais e depois virtuais), arrumar/re-decorar a casa, os encontros possíveis (entenda-se poucos) com Família&Amigos, fazer o nosso álbum dos 3 anos de Austrália - ficou tão giro!!, ver a série dos anos 90 "Imortais", acender velas e incensos pela casa, e dormir (não sei se já tinha dito).