Docinhos: Um dia de cada vez | Cookies: Taking it a day at a time


“Today me will live in the moment. Unless it’s unpleasant, in which case me will eat a cookie.” 
Cookie Monster


Sim, temos comido mais cookies do que o normal: é raro passar um domingo em que eu não prepare um qualquer docinho para a semana que está a começar.

E sim, reconheço que é uma maneira de lidar com toda a frustração acumulada - cada um vai lidando como consegue/pode: eu faço doces ao domingo, dedico-me aos puzzles, vou fazer caminhadas à beira-rio e escrevo no blog (entre outras coisas).

Tenho recebido algumas mensagens de Família e Amigos preocupados com a situação atual na Austrália, mais concretamente com a situação no estado de Victoria - afinal nós é que somos os maus da fita.

Olhemos para os números (e esta é uma análise SUPER simplista, sem ter em conta a idade da população, onde vive a população, a natureza dos serviços de saúde, os métodos de testagem, o método de contagem de óbitos, etc etc etc):

Portugal tem cerca de 10.3 milhões de habitantes.

A Austrália tem cerca de 25.6 milhões de habitantes, 6.6 milhões dos quais vivem no estado de Victoria (4.9 milhões em Melbourne, a capital do estado).

Ao dia de hoje Portugal tem 52 945 casos confirmados (+120 que ontem), 38 760 recuperados, 1 761 óbitos (+ 2 que ontem).

Ao dia de hoje a Austrália tem 22 127 casos confirmados (+316 que ontem), 12 774 recuperados e 352 óbitos (+ 18 que ontem).

Estado de Victoria (dados 12 Agosto 2020):

Números são números, e quando estamos a falar de pessoas de carne viva, os números são extremamente redutores. Mas olhando apenas para os números, tenho de admitir que não são estes números que me estão a deixar dramaticamente preocupada.

Preocupa-me sim o descontrolo que ainda existe nos lares de idosos, preocupa-me o número crescente de casos identificados em quem trabalha na área da saúde, preocupa-me que muita gente ainda não leve isto a sério só porque não usar máscara é um direito constitucional (sim, temos disto), para poder ir beber um copo a casa de uns amigos ou para ir comprar tabaco a 20km de casa. Entristece-me que durante os primeiros meses (de Março até fins de Junho) tenha tudo corrido tão bem na Austrália (Victoria!) e depois isto... Desleixo? Chegada do outono? Não sei exatamente... (E preocupa-me um pouco como vão ser as coisas na Europa depois do fim do verão...)

Eu definitivamente faço parte do grupo de pessoas que não consegue ver nada de positivo com esta pandemia. Se alguém precisava de uma epidemia para dar valor ao que tinha antes, para "parar", a meu ver só pode afirmar isto porque não foi de todo afetado: não viu ninguém a sofrer e/ou a morrer; não perdeu o emprego, os rendimentos, a casa; não teve de decidir entre a hipótese de ficar doente ou a hipótese de não poder alimentar os filhos.

O distanciamento social que estou agora a viver é um privilégio dos ricos. E apesar de ser um privilégio que eu reconheço e agradeço, não deixa de ser uma situação que me causa alguma ansiedade e frustração (uns dias mais que outros). 

Um dia de cada vez, e se possível acompanhado a chocolate e caramelo.


Para sorrir (de forma mais-ou-menos cínica): lockdown v1 vs lockdown v2.

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