Tempos absurdos (III) | Absurd times (III)


Hoje saímos de casa para ir ao jardim.

Connosco levávamos uma pequena bola - qualquer desculpa para um pouco de exercício físico ao ar livre é mais que válida neste momento.

Passamos 30/40/50 minutos (?) a atirar a bola um ao outro, a correr atrás da bola, a rir; e durante aqueles 30/40/50 minutos (?) não existiu mais nada para além daquela bola cor de laranja a voar pelo ar.

Quando nos sentamos na relva para descansar, os meus pensamentos saltavam entre um passado que já lá vai (e onde não me lembrava da última vez em que tinha ido a um jardim correr atrás de uma bola) e um futuro que anseio que chegue rápido. E depois dei comigo a dizer baixinho: "Joana, vive o Presente".

O meu Presente: pássaros a chilrear, o latir dos cães, borboletas brancas a voar, o riso das crianças ao longe, o som de bolas de futebol a ser chutadas, pequenas gotículas de suor a escorrerem-me pelas costas, uma ligeira brisa a bater-me no pescoço, a relva ainda húmida a molhar-me as calças de fato de treino... Um Presente tão simples e tão fundamental para a minha sanidade mental.

Mas não conseguia sacudir a sensação de que enquanto eu estava ali a apreciar o sol, havia gente a sofrer / a lutar / a morrer, e apesar dessa ser uma realidade constante - afinal há SEMPRE gente a sofrer / a lutar / a morrer - este vírus conseguiu tornar toda a nossa fragilidade ainda mais real. E foi com algum esforço que me "obriguei" a gozar daqueles momentos de felicidade sem culpa. Sim, há que reconhecer a gravidade do que estamos a viver, não há como não sentir compaixão e empatia pelos que estão a ser mais afectados, e não dá para não se sentir um enorme respeito&gratidão por quem está na linha da frente; mas também é importante darmos valor ao que (ainda) temos e gozarmos os pequenos momentos de felicidade onde os podemos encontrar.

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