Tempos absurdos (II) | Absurd times (II)


Quando acordo pela manhã sou "bombardeada" com notícias de Portugal e da Europa. Novos casos de infeções, mortes, mais países afetados, impacto no emprego, impacto na economia, cidades em estado de emergência, países em estados de emergência, fronteiras fechadas (bem como a dose diária de desinformação)...

Das raras vezes que saí de casa durante as últimas três semanas - para ir à mercearia, para ir buscar comida e três idas ao escritório - parecia que estava a viver num universo paralelo.

O mundo vive num caos sem precedentes. Mas nesses raros momentos em que saí à rua, quase que tudo parecia "normal". Os trams a passar, os carros parados no semáforo, pessoas a caminhar no passeio com o seu copo de café na mão / a passear o cão. Uma sensação anormal de normalidade. (Lembro-me que em Portugal já tinha sido anunciado o estado de emergência, e as esplanadas aqui de Melbourne ainda estavam cheias de malta a almoçar!)

MUITA coisa mudou durante estas últimas três semanas na Austrália, incluindo total encerramento das fronteiras a não-australianos / não-residentes, quarentena obrigatória a quem chega ao país, encerramento das fronteiras de alguns estados e apelos sucessivos e recorrentes para a população ficar em casa. E quando saio à rua já vejo menos trams, menos carros e menos pessoas. Mas ainda tenho alguma dificuldade em conciliar o que sei que está a acontecer no mundo com o que estou a viver efetivamente.

Balanço de quase quatro semanas "fechada" em casa:
Eu percebo que no contexto das nossas vidas modernas, sempre a correr de um lado para o outro, com uma vida social que "não pode parar", e uma economia que não pode parar, a visão de se estar fechado em casa é bastante assustadora, quase anti-natural. Aceitei com alguma facilidade (que remédio!) que vai ser assim nos próximos meses e para já só me posso queixar de não ter mais tempo livre (ainda tenho de aprender a gerir melhor as minhas horas de trabalho a partir de casa). O que me está a custar mais, muito sinceramente, é o não poder planear NADA - a sensação que tenho é que carreguei no botão "pausa" da Vida, com planos e projetos todos em suspenso - mais uma vez uma excelente oportunidade para se treinar a difícil arte da paciência.

Mas depois penso um bocadinho e chego à conclusão que também é uma excelente altura para (re)aprender a viver no Presente. Para o Futuro teremos tempo...

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