Pela toca do coelho (em Seul) | 서울의 토끼굴 아래로


Quando começamos a descer as escadas que vão dar ao metro sinto-me como a Alice a descer pela toca do coelho. Não sei o que me espera mas sei que no mínimo vai ser interessante.

Na mão tenho o telemóvel ligado à internet. Como seria não ter esta ligação ao "mundo"?!;  infelizmente somos demasiado comodistas e como toda a gente que nos rodeia temos pressa de chegar a outro lado qualquer.

Por cima de nós, à superfície, ficou o caos do trânsito. À nossa volta temos agora o caos das pessoas, completamente indiferentes à nossa presença. 

Depois de conseguirmos descobrir o sentido para onde queremos ir, esperamos de forma ordeira na fila para entrar. A ordem na espera em tudo contrasta com a desordem da chegada do metro: pessoas saem e entram ao mesmo tempo - mas provavelmente não podia ser de outra forma numa cidade com tantos milhões de habitantes.

Passadas algumas estações sentamo-nos em dois lugares deixados vagos há menos de dois segundos (aqui os lugares sentados são deveras preciosos). Do outro lado do corredor um casal mais velho fala entre si, olha para nós e sorri - não sei se se estão a rir para nós ou de nós, mas de qualquer forma retribuo o sorriso. Somos os únicos caucasianos. Mais ninguém repara em nós até porque tirando esse casal, que entretanto deixou de nos prestar qualquer atenção, toda a gente está sintonizada com o seu telemóvel: toda a gente está num mundo paralelo em que o seu polegar é a grande estrela.

Numa qualquer paragem entra um grupo de adolescentes: a pele clara e os lábios cor de cereja, mochilas fofinhas e capas de telemóvel ainda mais fofinhas, provavelmente aspirantes a atrizes de K-drama ou cantoras de K-pop.
Ao longe, no troço que liga duas carruagens, um senhor come uma espiga de milho de uma forma o mais discreta possível. 
Noutra qualquer paragem todos os que entram vestem cores escuras e carregam pastas escuras: acredito que estamos na zona financeira. (E o que antes tinha sido uma carruagem cheia de cor passa a ser uma carruagem cinzenta.)

Chegou a nossa vez de sair, não sem antes ter de furar pela multidão que entretanto se acumulou. Saímos do metro e começamos a dirigir-nos novamente para a superfície. E só depois de subir as escadas, mesmo na "boca da toca" é que chego à feliz conclusão que o País das Maravilhas da Alice não se limita aos subterrâneos de Seul.

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