Doppelgängers e outras estranhezas | Doppelgängers and other weird things


Desde que estou em Melbourne já me cruzei com muita gente "conhecida". Mas só durante o décimo de segundo que o meu cérebro demora a processar a informação de que eu estou do outro lado do mundo, e que portanto dificilmente aquela pessoa será "aquela" pessoa.

Já "encontrei" o Pedro e o André em versão asiática, no tram; já "estive" com a versão indiana do João no elevador do meu prédio; já "atravessei" a passadeira com antigos colegas de trabalho; já "estive" na fila do supermercado com uma vizinha minha de Coimbrões, etc etc.

Engraçado como funciona o nosso cérebro. Como as nossas pessoas nos acompanham para todo e qualquer lado. E comecei a pensar como seria giro (?!) cruzar-me com algum Doppelgänger: a cópia idêntica de alguém que eu conheço.

O que me levou a pensar no meu próprio Doppelgänger: onde estará, a fazer o quê, como se veste, o que é que come, etc etc. E lembrei-me da Joana de há 12 meses atrás. E de como existem versões diferentes da mesma pessoa, dependendo do ambiente em que se encontra e da situação em que vive. 

A pessoa é a mesma, afinal o seu código genético não mudou (e eu sou uma daquelas pessoas que não acredita que a verdadeira natureza de alguém possa mudar radicalmente, de um momento para o outro), mas a forma como reage ao que a rodeia torna-se bastante diferente. 

Antes de vir para a Austrália eu reagia demasiado facilmente a determinados estímulos, incluíndo com raiva e angústia. Agora sinto-me (mais) em controlo das minhas reações: o estímulo-reação deu lugar a estímulo-análise-reação ou não reação.

Antes de vir para a Austrália estava "segura" dentro da minha bolha, e não me preocupava muito em expandir para além do que me fazia feliz (e sim, eu era feliz!). Agora é rara a semana em que não aprendo uma coisa diferente - seja uma posição de yoga ou método de meditação, uma receita (recentemente foi gnocchi e pasta fresca), palavras numa qualquer outra língua, uma nova competência/habilidade (macramé, mandalas, fisiologia do prazer, songwriting, ... ); ou em que não conheço uma pessoa nova - da Colômbia, Bangladesh ou até mesmo Papua Nova Guiné ou Eritreia.

Foi uma agradável surpresa perceber que ainda tenho muito espaço dentro de mim para outras coisas. E foi ainda mais agradável (re)encontrar a Joana sem medo.

“I must be willing to give up what I am in order to become what I will be.”
– Albert Einstein

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